8 de setembro de 2017

Lá e cá

De volta à realidade
dividido, e cada metade
dói uma dor fina e latejante
no compasso de cada instante
numa angústia sufocante

Dividido entre a saudade
e a felicidade
deixo um naco de mim
em cada cidade
Enquanto choro por dentro
aquele velho tormento
me faz caridade

O desencontro e o desengano
me abraçaram outra vez
aquele abraço caloroso
o mesmo abraço rancoroso
A mesma velha insensatez

E me perdi sem entender
me iludi ao me entregar
entreguei o que não tinha
Fiz da pobre alma minha
Um abrigo a soçobrar

Como infância que não volta
Sinto a ânsia da revolta
Acenando tão distante
Sufocando, atenuante
Esse peito já surrado

E então sigo, vou adiante
O mesmo peito, palpitante
Mas agora, calejado

21 de agosto de 2017

Quando o ódio afaga

Seu ódio me faz feliz
E faz sonhar aliviado
Cada farpa de cada palavra
não me rasga, me conforta
Seu ódio me acalenta,
faz calmaria da tormenta
e do amor me abre a porta

Pois só o ódio que nunca quis
me diz que eu nunca estive errado
quando fui tão reticente
quando fui desconfiado

É que do amor que se machuca
não surge a raiva feito grito
Brotam lágrimas de culpa,
nasce a dor de um peito aflito,
que suplica por desculpa
e não rancor tão desmedido
nem pavor e força bruta

pois um peito apaixonado
é romance inacabado
todo cheio de aflição
com platéia em comoção
implorando outro episódio

Do amor, se faz perdão
e bem- querer, jamais o ódio


14 de abril de 2017

Sobre acreditar

Nesse mar de razão e sensatez
De sentimentos regrados
E felicidade arquitetada

É preciso resistir ao racional
E então ceder
E então dobrar
Baixar os punhos cerrados
Compreender que se entregar
É bem melhor que ser sensato

Para ver que sentimentos são correnteza
E que a essência da sua beleza
É não os poder controlar

A vida é um mar de paixões
Revoltas, que não se deixam domar
E a delícia de viver
É se deixar carregar

É preciso acreditar. E se entregar
Confiar naquele sentimento
Que vem sabe-se lá de onde

E faz querer abraçar
Até sufocar
E faz querer beijar
Até se afogar
E faz querer olhar
Até enxergar
O que nunca se viu
Em nenhum outro olhar

Aquela vontade de voltar no tempo
E então fazer o tempo parar
Para viver eternamente aquele mesmo momento
Do abraço apertado, do beijo perfeito
Na praia do sul, de frente pro mar

É preciso acreditar, Flor!
É preciso acreditar nessa paixão
Que não se pode explicar
É preciso acreditar, e se entregar
Entender o quão raro é se apaixonar

Porque mesmo que a razão
insista em dizer que não, que não vai dar
Enquanto houver paixão
As coisas vão fluir
Vai valer a pena
A vida vai se ajeitar

É preciso, Flor
É preciso se envolver
Deixe de lado seu medo
Deixe falar seu amor
É preciso acreditar. E se entregar

É preciso saber que o tempo é nosso
Que a razão é só um algoz
Que o encantamento foi tão profundo
E que o mundo... Pertence a nós!

É preciso acreditar.

Paixão por paixões

Eu sou essa mistura inquietante
Contradição que se completa
Um sincretismo ambulante
Em uma alma inquieta

Eu sou um amalgamado de paixões
Independentes, contraditórias
Afogadas em tantas ilusões
Quase dormentes, intransitórias

Eu sou um ser errante
Cujo coração quer transbordar
Buscando, louco, a todo instante
Um outro peito pra derramar
Toda essa lava lancinante
Esse liquido escaldante
Que é meu desejo de amar